
Simone Veil e Helmut Kohl - duas grandes perdas para a Europa
O mês de junho de 2017 fica marcado, a nível europeu, não só pelo impasse do início das negociações do Brexit, mas pela morte de duas figuras importantes da construção europeia: Simone Veil e Helmut Kohl.
Simone Veil foi uma política francesa de centro-direita. De origem judaica, a sua infância é marcada pela Segunda Guerra Mundial, não só pela invasão alemã e pela política do governo de Vichy, mas porque foi um dos milhões que sentiu na pele o Holocausto. Simone, com 17 anos, viu a sua família ser separada, e é enviada para Auschwitz juntamente com a mãe e uma irmã. Só ela e mais duas irmãs é que sobrevivem ao Holocausto, das seis pessoas que compunham a sua família antes da guerra.
Simone Veil no Parlamento Europeu
Veil fica conhecida na política francesa quando, na década de 70, enquanto ministra da Saúde do governo de Chirac, trava uma batalha pela legalização da interrupção voluntária da gravidez. É importante referir que o fez, apesar desta medida não ser popular nas hostes da direita francesa naquela altura. Em termos europeus, Simone Veil fica na história como a primeira Presidente do Parlamento Europeu eleita e foi uma figura relevante na evolução da CEE da altura para a atual UE. Feminista convicta, é lembrada pelos franceses pela forma como defendia as suas ideias e como prova viva dos horrores do Holocausto.
Helmut Kohl foi um político alemão de centro-direita. Sentiu a Segunda Grande Guerra como soldado, aos 12 anos, nos últimos meses da guerra e viu com os seus olhos a morte, a destruição e a fome com que os Nazis presentearam a Alemanha. Kohl foi Chanceler alemão de 1982 a 1998 e é o principal responsável pela Europa que surgiu depois da queda do Muro de Berlim. Kohl, juntamente com Miterrand, presidente francês na década de oitenta, começa a pensar e arquitetar o aprofundamento da integração europeia e a criação da moeda única (Euro). Em paralelo, começa a preparar a reunificação alemã. Após a Segunda Guerra, a Alemanha é dividida em duas (RFA e RDA), sendo que a RDA pertencia ao bloco soviético. Kohl, devido à sua excelente relação com Gorbachev (líder da União Soviética), consegue convencer a URSS, e mais tarde os EUA e o resto da Europa, da necessidade de uma reunificação alemã. Usa para isso o aprofundamento da UE, dizendo que desejava uma Alemanha europeísta e não uma Europa alemã. O seu trabalho foi fundamental, não só na forma pacífica como a Alemanha se reunificou, como em toda a transição democrática que ocorreu na europa de leste com o fim da União soviética.
Helmut Kohl no dia da Queda do Muro de Berlim - 9/11/1989
Junho levou dois dos pais desta europa em que vivemos e que, de vez em quando, pomos em causa e nos queixamos. Kohl e Veil eram europeístas convictos porque sentiram na pele o resultado de uma europa de nações, como muitos milhões antes deles. A Europa tem um passado de sangue, de nações e povos em conflito. Se queremos honrar a memória destas duas personalidades que nos deixaram, devemos ter sempre presente que somos uma Europa de Povos Europeus e não uma europa de nações.
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